sábado, 4 de janeiro de 2014

O vestido branco Clarice Lispector



Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já me disseram, me acham perigosa.
Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou.
Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Verdades

Desculpa-me por falar verdades, as pessoas não agüentam ouvir verdades. É melhor do que viver na mentira, a vida monótona para quem não se arrisca a dizer o que pensa. Pois é uma coisa sem graça que você quer, e é bem teu mau gosto mesmo, então vá viver essa vida insossa! Vou continuar a dizer verdades e pronto, porque entre o meu cérebro e a boca não há filtro, melhor do que esconder quem se é a viver uma vida que não se quer. Sim eu faço o que tenho vontade de fazer e falo o que quero falar, não impeço ninguém de fazer o mesmo, mesmo não concordando com essas palavras ou ações. Não deixo de acreditar que um dia encontrarei alguém que realmente me entenda.

O teu maior erro é não falar verdades, o meu maior erro é falar, mas também é minha maior virtude!

(Natasha Hartmann)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Perto do Coração Selvagem



Analisar Instante por instante, perceber o núcleo de cada coisa feita de tempo ou de espaço. Possuir cada momento, ligar a consciência a eles, como pequenos filamentos quase imperceptíveis mas fortes. È a vida? Mesmo assim ela me escaparia. Outro modo de captá-la seria viver. Mas o sonho é mais completo que a realidade, esta me afoga na inconsciência. O que importa afinal: viver ou saber que se está vivendo?

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Migalhas


Sinto muito
Mas não vou medir palavras
Não se assuste
Com as verdades que eu disser
Quem não percebeu
A dor do meu silêncio
Não conhece
O coração de uma mulher
Eu não quero mais ser
Da sua vida
Nem um pouco do muito
De um prazer ao seu dispor
Quero ser feliz
Não quero migalhas
Do seu amor
Quem começa
Um caminho pelo fim
Perde a glória
Do aplauso na chegada
Como pode
Alguém querer cuidar de mim
Se de afeto
Esse alguém não entende nada
Não foi esse o mundo
Que voce me prometeu
Que mundo tão sem graça
Mais confuso do que o meu
Não adianta nem tentar
Maquiar antigas falhas
Se todo o amor
Que voce tem pra me oferecer
São migalhas, migalhas...

domingo, 5 de setembro de 2010

Estrela


E de repente me veio um vazio, um vazio tão grande como quem olha para o céu e vê a imensidão, uma sensação de querer alcançar alguma coisa, mas ao mesmo tempo uma sensação de conforto de aconchego e inquietude. Eu estava vendo as coisas acontecerem participando apenas de longe. O fato é que eu não quero ser a poltrona branca imóvel nem a cortina transparente ou o quarto mudo, mas o céu, a estrela, não a mais brilhante, mas qualquer uma em qualquer lugar e acompanhada por outros.
(Natasha Hartmann)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Subtexto

Se eu tivesse pensado antes, em como agir da melhor maneira possível, não teria magoado quem é importante para mim, hoje essa pessoa me entenderia e estaria comigo ao longo desse tempo...Tempo esse “perdido” por atos cometidos e esquecidos propositalmente na tentativa de fuga, Porque hoje por mais que eu não me permita lembrar os momentos importantes do passado para não sofrer, eles acabam retornando de alguma forma, não sei se eu suportaria a imensa dor da lembrança. Dificílimo contar... a única certeza que tenho é da grande história que nós criamos, apesar de estarmos afastados porque os anos foram passando e perdemos a criança que existia dentro da gente. Aos meus olhos posso parecer louca, mas juntando minhas peças quem sabe meu universo não ganhe algum sentido? É possível estar dos dois lados quando a palavra é magoar, e tanto em um, quanto do outro fica difícil esquecer. Hoje percebo que não temos os mesmos ideais, mas eu só peço que não se esqueça de mim, não se arrependa de mim porque eu preciso de você...



“Das lembranças que eu trago na vida, você é a saudade que eu gosto de ter”

(Natasha Hartmann)

domingo, 6 de junho de 2010

Agridoce



Agridoce! perfeito sabor do doce e salgado... o equilibrio no maior de todos os sentidos: o paladar....Relacionamentos são sempre "Agridoce"...quando o sal fere ou o doce mela... e o prato se desequilibra, é quando as probabilidades de uma nova receita ser criada é enorme...mais nem sempre temos na cozinha os mesmos chefes...as vezes é necessário trocar...


Por que você às vezes
Se faz de ruim?
Tenta me convencer
Que não mereço viver
Que não presto, enfim
Saio em segredo
Você nem vai notar
E assim sem despedida
Saio de sua vida
Tão espetacular
E ao chegar lá fora
Direi que fui embora
E que o mundo já pode se acabar
Pois tudo mais que existe
Só faz lembrar que o triste
Está em todo lugar
E quando acordo cedo
De uma noite sem sal
Sinto o gosto azedo
De uma vida doce
E amarga no final
Saio sem alarde
Sei que já vou tarde
Não tenho pressa
Nada a me esperar
Nenhuma novidade
As ruas da cidade
O mesmo velho mar